sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Musicofilia de Oliver Sacks


Musicofilia

Autor: Oliver Sacks
Edição: Relógio d' Água
371 Págs.

Com a mesma marca de compaixão e erudição de O Homem Que Confundiu a Mulher com um Chapéu, Oliver Sacks explora o lugar que a música ocupa no cérebro e como é que ela afecta a condição humana. Em Musicofilia, o autor apresenta uma variedade daquilo que designa por «desalinhamentos musicais». Entre eles: um homem atingido por um relâmpago que subitamente deseja ser pianista aos quarenta e dois anos; um grupo de crianças com síndrome de Williams, que desde a nascença são hiper-musicais; pessoas com «amusia», para quem uma sinfonia soa a ruído de panelas; e um homem cuja memória dura apenas sete segundos excepto quando se trata de música.

Crítica do blog OLAM.
Crítica do Semanário Expresso de 17/01/2009:
Neurologia O misterioso fenómeno da música à luz da ciência pelo neurologista mais popular do mundo.

A literatura das "case stories" não é propriamente escassa. Desde que A.J. Luria começou a escrever sobre os seus pacientes, muita gente lhe seguiu o exemplo, nem sempre com o reconhecimento da autoridade científica. O que Oliver Sacks tem de especial, além das credenciais científicas indiscutíveis, é uma personalidade onde se combinam saber, experiência e cultura, no sentido mais amplo. A eventual ligação entre o temperamento científico e o artístico foi em tempos sugerida por Fernando Lopes-Graça, ao notar que, globalmente, os cientistas pareciam ter mais apreciação por música clássica do que as pessoas de letras. "Musicofilia" não confirma nem desmente essa hipótese, mas talvez a ilustre na prática. Com efeito, é difícil imaginar, digamos, Harold Bloom a escrever de forma tão interessante sobre a música. Fenómeno misterioso, sem aparente função no processo evolutivo (Steven Pinker, citado neste livro, chamou-lhe "cheesecake auditivo" e aventou tratar-se de um produto acidental, "doses purificadas e concentradas" de sinais, esses sim, com utilidade adaptativa), a música é uma das poucas actividades que activa a quase totalidade do cérebro. Com o desenvolvimento das técnicas de imagiologia, cada vez sabemos mais coisas sobre esse órgão e descobrimos que ele é de facto diferente nos músicos. Para que conste: "O corpo caloso, a grande comissura que liga os dois hemisférios do cérebro, está aumentado nos músicos profissionais e parte do córtex auditivo, o planum temporale, tem um aumento simétrico nos músicos com ouvido absoluto." Também é "maior o volume de matéria cinzenta nas áreas motora, auditiva e visual-espacial do córtex, assim como no cerebelo". Ou seja, aprender música desde a infância pode fazer desenvolver o cérebro. Outros efeitos abordados por Sacks têm a ver com alucinações, amusia (o equivalente musical da afasia), capacidades extraordinárias savants musicais; um homem que é atingido por um raio e fica obcecado por música de piano) e, claro, as mais diversas terapias, em especial as que têm a ver com recuperação de memória. Ao contrário do que acontece noutros livros de Sacks, aqui nem todos os capítulos têm a ver com casos individuais. Com tudo o que o autor tem para dizer, é uma vantagem para o leitor.
Luís M. Faria

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